sexta-feira, 27 de julho de 2012

Esperando Godot

A propósito de um artigo no Jornal Público, com o título "À espera de Godot nos Estaleiros de Viana do Castelo", fui à procura do resumo desta peça de teatro de Samuel Beckett para saber exactamente de que trata e quem era Godot. Embora já tivesse lido tantas vezes este título e expressão, na verdade não conhecia a peça.
Então o resultado da minha pesquisa é a seguinte:

Foto de Wolfgang Pannek

Num lugar indefinido - Estrada (caminho) do campo, com árvore, á noite - dois amigos se encontram: Estragon e Vladimir. A primeira frase dita na peça, por Estragon, já indica a inutilidade da presença deles naquele lugar:"nada a fazer" (rien à faire). 
Eles lá se encontram para esperar um sujeito de nome Godot. Nada é esclarecido a respeito de quem é Godot ou o que eles desejam dele. Os dois iniciam um diálogo trivial que só será interrompido quando da entrada de Pozzo e Lucky. O aparecimento destes assusta os amigos, ainda mais pelo modo como os dois vêm: Pozzo puxa uma corda que na outra ponta está amarrada ao pescoço de Lucky. Lucky por sua vez carrega uma pesada mala que não larga um só instante. Entende-se pela situação que Pozzo é o patrão e Lucky seu criado. Os quatro trocam palavras, cada um com seu drama pessoal, até que Pozzo e Lucky saem. Em seguida, entra um garoto para anunciar que quem eles estão esperando - Godot - não viria hoje, talvez amanhã. Fim do primeiro ato.
O segundo ato é a cópia fiel do primeiro. O cenário é o mesmo, a menos da árvore que está um pouco diferente, com algumas folhas. Estragon e Vladimir voltam para esperar Godot, que talvez apareça nesse dia. Iniciam outro diálogo trivial, interrompido outra vez pela chegada de Pozzo e Lucky. Só que, inexplicavelmente, Pozzo está cego e Lucky está surdo. Dialogam. Após a partida destes, aparece um garoto (diferente do garoto do primeiro ato) anunciando que Godot não viria hoje, talvez amanhã. Pensam em se enforcar na árvore, mas desistem, ante a impossibilidade do ato ser simultâneo. 
O diálogo final, que encerra o ato e a peça é o seguinte:
Vladimir: Então, devemos partir? (Alors, on y va?) (Well, shall we go?)
Estragon: Sim, vamos. (allons-y.) (Yes, let's go.)
Eles não se movem. (Ils ne bougent pas.) (They do not move.)
É melhor acabar com a agonia ou continuar esperando Godot?
Não há dúvida de que me identifico com esta espera por coisa nenhuma...
Estou há anos à espera que alguma coisa aconteça no meu trabalho, que alguma coisa se defina, que alguém tome uma posição, que diga sim ou sopas... enfim, eu continuo presa a uma coisa que não sei se é boa ou má, se acaba ou continua... mas cá estou.
Fica a sensação de ter onde ir todos os dias, um objectivo. Principalmente porque me pagam por isso, tal como os funcionários dos Estaleiros de Viana do Castelo, que não têm trabalho mas vão diariamente para o Estaleiro.
São os sonhos também que nos fazem ser o que somos, e são eles também que nos mantém vivos.
Eu também tenho o meu Godot, é claro.
E, enquanto espero por Godot, continuarei a ir para o meu trabalho, fazer as minhas pesquisas, escrever no meu blog, escrever as biografias dos meus antepassados, contactar com os meus amigos nas redes sociais... imaginando de que conversaremos se ele finalmente aparecer.

Estragon - Espere! Eu me pergunto se não teria sido melhor que a gente tivesse ficado sozinho, cada um por si. Nós não fomos feitos para a mesma estrada.
Vladimir - Isso nunca se sabe.
Estragon - Não, nunca se sabe nada.
Vladimir - Nós ainda podemos nos separar; se você achar melhor.
Estragon - Agora é tarde demais.
Vladimir - É, agora é tarde demais.
Estragon - Então, vamos?
Vladimir - Vamos.

2 comentários:

  1. Olha, Guida, que bem me soube ouvir esta história, por mim também conhecida, mas apenas pelo nome. Nunca tinha lido nada sobre o seu conteúdo. E como ele diz tanta coisa. Obrigado por este bocadinho. E, afinal, que não espera pelo seu Godot? Beijinhos.

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  2. Há quem não se limite a esperar... Há quem nem se aperceba que tem um Godot na sua vida...
    Ainda bem que gostaste, Isabel. Beijinhos

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